sábado, 2 de abril de 2016

Desconstruções construtivas

A vida contemporânea nos imprime um ritmo, muitas vezes tão alucinante que nós podemos mesmo perder a essência de quem nós somos. Sei que desde o início da História, até onde se tem registros, o homem tem se perguntado o que ele vem fazer por aqui...mas você já parou para se perguntar o que você está fazendo por aqui?

Alguns simples questionamentos que eu deixei de me fazer:
Faz sentido trabalhar 12 horas por dia e literalmente entregar a sua saúde?
Faz sentido ser rico para...poder comprar o que você quiser?
Faz sentido malhar, malhar, malhar e ficar bonito para se transformar num "objeto" a ser contemplado?

Eu não estou aqui para apontar os defeitos de ninguém, mas tão somente apontar os meus e os aprendizados que esta minha doença me trouxe.

Eu tive de ficar cronicamente doente para literalmente parar tudo e perceber que muito do que eu fazia simplesmente não fazia sentido algum. Eu vivia num automatismo de escolhas impensadas.

Antes de tudo isso acontecer na minha vida, eu era uma pessoa afastada da minha família; afastada dos relacionamentos mais simples e mais importantes; afastada dos significados dos acontecimentos da minha vida; afastada de Deus.

Não fazia sentido eu trabalhar até 2 da manhã reiteradas vezes enquanto minha filha me aguardava em casa ainda bebê.
Não fazia sentido eu querer ser rico, enquanto eu não preciso comprar tudo o que queria. É muito mais fácil viver com pouco de uma forma que eu jamais pude pensar.
Não fazia sentido eu malhar, malhar, malhar para transformar meu corpo numa maçaroca de músculos para... para o quê mesmo?

Sabe, hoje eu tenho certeza de que absolutamente nada é por acaso mesmo. Que Deus é tão tão tão inteligente que faz acontecer desconstruções nas nossas vidas para que possamos, junto Dele, construirmos uma base, uma fundação de um edifício da vida muito mais alto do que podíamos imaginar. Que nada que possamos encontrar no dia-dia material é suficiente para preencher essa necessidade de dar sentido à vida, essa inata necessidade de responder à grande questão "o que eu estou fazendo aqui?".

Minha mãe, como disse anteriormente, teve câncer. Ela faleceu por conta desta doença. O trajeto de seu tratamento teve singular significado também na vida dela. Nós conversávamos muito, sabe? Ficamos doentes na mesma época. Os ciclos das doenças aconteceram de forma razoavelmente simultânea: negação, revolta, reflexão, aprendizado, aceitação. No final, ela havia entendido o sentido de tudo aquilo. Nós pudemos observar que durante muito tempo das nossas vidas, estivemos entregues a preocupações que são só ocupações superficiais e mesmo simples demais para nos ocuparmos. A nossa ficha "caiu"! (E eu honestamente e respeitosamente não sei se você entende a profundidade dessa minha última sentença: a nossa ficha "caiu").

O que paramos para perceber? Por exemplo, tenho certeza que poucas pessoas pensam nisso no seu dia-dia mas você percebeu que hoje:
1) você acordou?
2) você respira?
3) você enxerga?
4) você sente cheiros?
5) você se locomove?
6) você vai ao banheiro urinar ou evacuar normalmente?
7) você não vomita "do nada"?
8) você digere sua comida?
9) você sente gostos?
10) você tem rins em perfeito funcionamento?

Meu amigo, minha amiga, meu parceiro de vida...não se apresse em enxergar todas essas aptidões como óbvias porque elas não são! Que mérito tem você ao desfrutar de cada uma delas? É o acaso? Duvido!
Elas só são óbvias se você se permitir entorpecer pelo dia-dia de propagandas e problemas que, no fundo no fundo, não são problemas de verdade. Não quero com isso dizer  que a vida tenha de ser um oba-oba, sem progresso ou sem conquistas. Não! Quero é dizer que antes de se preocupar com qualquer coisa, você pode, como eu não o fiz durante quase toda a minha existência até os 33 anos, ao acordar poder agradecer a Deus por ter cada uma dessas aptidões "de graça", por ter a oportunidade de ter saúde.

Repito: o que hoje você tem, amanhã, ou melhor, à tarde você não sabe se tem. O que Deus dá, Deus tira. Por favor, aprenda com o meu erro, com o erro da minha mãe: pare para pensar, antes que Ele o faça parar. São essas as desconstruções construtivas da vida.



Em 1 dia, eu entrarei numa cirurgia para preparar meu braço para o processo de hemodiálise. Serão 3 seções por semana, cada uma de 4 horas. Depois de muito refletir, vejo que Ele me "parou" porque eu realmente precisava aprender com o que de fato tem valor. Graças a Deus eu sou deficiente renal, e que Ele me dê uma segunda chance de repensar a minha vida. Estou fazendo a minha parte, e você?


4 comentários:

  1. Dan, talvez não tenham sido erros. Apenas Vivências que a vida o levou a experimentar. A Lei de Causa e Efeito não é tão imediata como pensamos. Que continues com fé e força para novas vivências que são necessárias para nosso aprendizado.

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  2. Valente por demais... te admiro muito..que Deus te abençoe e te dê muita sorte! Pode contar comigo!

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  3. Valente por demais... te admiro muito..que Deus te abençoe e te dê muita sorte! Pode contar comigo!

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  4. Lindo texto.A pura verdade.Que um milagre chegue até você e você nunca deixe de agradecer a ELE.beijo!

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