domingo, 3 de abril de 2016

Não existe almoço grátis!


Não existe almoço grátis, tudo tem um "preço". Se uma pessoa saudável deveria se ocupar em cuidar de seu corpo, um paciente crônico tem a obrigação de fazê-lo. O seu corpo já está fragilizado e irá potencializar, mais cedo ou mais tarde, os efeitos de suas atitudes. Para nós doentes as consequências vêm inexoravelmente mais cedo.

Mas eu preciso ser franco com você: chegou num momento que eu simplesmente "chutei o balde". Parei a medicação. Parei a dieta. Cansei daquela extenuante rotina de atenção a todos os detalhes da medicação, à contagem de gramas de proteínas que eu ingeria, à medição de porções de arroz, de feijão, de batata, de tudo... Mas que saco! Então eu decidi ignorar que eu tinha um problema renal crônico. Eu estava deprimido demais com aqueles efeitos colaterais e sentia que precisava "voltar a viver novamente"!

Fui à minha médica assistente e a comuniquei asperamente:
- Dra., a sra. é muito atenciosa e competente, gosto da sra. de verdade, mas a partir de hoje não tomarei mais o corticoide. E quanto à dieta, eu preciso voltar a ter prazer de me alimentar. Eu não aguento mais.

Certamente ela conhece pacientes revoltados, e eu creio não ter sido o primeiro em seu consultório. Ela pacientemente me ouviu e explicou que se assim fosse, eu deveria fazer uma transição: ir diminuindo progressivamente a ingestão da droga até "zerar". Alertou-me para um efeito rebote que o corpo poderia ter no caso de uma interrupção repentina - o nosso corpo habitua-se à alta dosagem da droga, sabia disso? E quanto à dieta, disse que eu não deveria me afastar de forma tão agressiva. Meu corpo não estava preparado para um dia-dia "normal". Era preciso cautela.

Como disse, sou réu confesso e eu estava deprimido demais para ter uma alimentação como aquela. Voltei a comer prazerosamente comida "normal" (já que continuo vegetariano). Ah, o sal! Que prazer é comer uma comida tradicionalmente salgada! Parece piada, mas comer comida sem sal é como ter um computador sem internet rsrs :)

Foi assim que voltei a ter o corpo "normal" esteticamente. A osteoporose e as dores no corpo foram diminuindo, o inchaço facial foi desaparecendo, as acnes sumiram de vez. Demorou uns 7 a 8 meses para isso tudo acontecer. E graças a Deus eu retomei, além do que já disse, a minha auto-estima e, com ela, a retomada de uma vida social. Voltei a trabalhar e a retomar a condução de minha vida profissional; e finalmente conheci uma companheira, uma parceira, uma mulher por quem me apaixonei e que hoje me dá uma vida emocionalmente plena junto de nossos filhos. Sim, a família é o início, a base de tudo.



Sabe, no dia de hoje, estou convicto que foi uma decisão importante eu ter dado uma "pausa" naquela forma de tratamento. Eu não estava me sentindo saudável, pelo contrário, sentia que a vida se esvaia de mim e eu mesmo não me reconhecia mais. Por outro lado, como eu disse lá no início, não existe almoço grátis e o preço que eu teria de pagar seria a doença evoluir mais rapidamente, meus rins começarem a parar e, com isso, a hemodiálise acontecer mais cedo do que eu e médica esperávamos.

2 comentários:

  1. Decisão corajosa, cara... Mas talvez um pouco imprudente?? 😕 Não?... Sei lá... enfim, desejo-lhe tudo de melhor!

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    1. Sim, mas eu não conseguia ficar mais naquela situação. Obrigado pelos votos de melhora.

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