terça-feira, 12 de abril de 2016

Vida "normal"

Estive afastado destas teclas nestes últimos 3 dias...acho que quis curtir um pouco da liberdade de se estar fora do hospital e também pelo fato de estar física e mentalmente cansado. Mas eu passei quase 1 semana deitado, como poderia estar cansado? Exatamente por ter ficado tanto tempo deitado que os músculos ficam mais flácidos e subir um lance de 5 degraus quase se equivale a subir 5 andares de escadas de um prédio! Desafios, gente, desafios...mas a novidade boa mesmo é que tive alta o que me permite voltar à vida "normal". Normal? Vamos tentar entender melhor essa palavra no meu contexto...

Minha rotina agora compreende, além de resolver os problemas que todo mundo tem, em 3 sessões de hemodiálise por semana, cada uma delas a despender 5 horas do dia: 30 minutos para ir de casa até a clínica, 4 horas "ligado" à máquina e, finalmente, 30 minutos para voltar da clínica à casa. Sou felizardo porque vou de metrô! Tenho tentado me esforçar para achar que isso é normal.

Pode ter um tom de reclamação essas palavras, mas o que quero deixar claro é que não há nada de normal numa rotina dessas. A legislação entende que paciente renais crônicos submetidos à hemodiálise podem ter uma vida exatamente normal: trabalhar, ir rotineiramente aos médicos e fazer tudo que a vida adulta demanda. Gostaria de convidar o senhor legislador a fazer tudo isso durante 1 mês, com direito a todas as agulhadas, por favor! Gente, é praticamente impossível! Não se trata de comodismo, mas de ser inviável conciliar todos os compromissos em manter-se vivo - literalmente - com o enfrentamento do mercado de trabalho. Eu tenho enorme dificuldades e gastos e olha que tenho plano de saúde, quase sempre consigo uma carona para ir às tantas consultas a médicos de ponta e, como disse, uso o metrô para me locomover à clínica! Imagine um pai de família pobre, que more na Baixada Fluminense, tenha de fazer hemodiálise pelo SUS no Centro do Rio, vá de ônibus ônibus lotado e chacoalhando com seu cateter à sua jugular que não pode infeccionar de jeito nenhum, tenha ainda que conseguir tempo e energia para ganhar o pão de cada dia como ajudante de pedreiro? Você acha que este homem pode virar para o empreiteiro e dizer:
- Seu Fulano, agora eu chegarei 3x na semana às 2 da tarde porque tenho que ir à hemodiálise, tá bom?
Ah, não gaste minha já pouca paciência com argumentos desse nível!

Sou ciente de que há inúmeros desvios corruptos no sistema de previdência e assistência social deste país. Os "benefícios" deste sistema, são direitos a serem usufruídos pelos cidadãos que se encontram em situações especiais em circunstâncias específicas. Antes de serem um assistencialismo pago pelos cofres públicos, são montantes depositados por empregadores e empregados quando de seu exercício em plena saúde, via de regra, e que, por razões especialíssimas podem e devem ser gozados para ajudar no enfrentamento do pagamento das responsabilidades da vida que não param! É por isso que quero anunciar neste momento que aqueles pacientes renais crônicos que, como eu, contribuíram por anos e anos à previdência e assistência social e que agora precisam de orientação para gozarem deste direito podem me procurar que eu encaminharei aos advogados amigos e conhecidos meus e lutarei para que eles tenham toda uma assistência diferenciada e que consigam seu auxílio-doença!

Por enquanto, sigamos aos trancos e barrancos com nossas rotinas mas não esqueçamos de manter o sorriso no rosto e a profunda fé e esperança de que um dia teremos nossa saúde de volta com o sucesso do procedimento de transplante ou a miraculosa e inexplicável cura advinda de Deus.



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