Já com os resultados dos exames que o primeiro médico havia me pedido, e mesmo antes da chegada do resultado da biópsia, minha médica assistente decidiu começar um tratamento intensivo contra a doença. Foi aí que conheci a coisa que mais odeio até hoje: corticoide. A ideia é a seguinte: dado um provável diagnóstico de uma doença auto-imune grave (grosso modo: uma doença que é o corpo contra o próprio corpo), seria arriscado demais esperar o resultado da biópsia para um diagnóstico quase "líquido e certo". Esta foi a avaliação médica que recebi e aquiesci.
Pronto! Proposta aceita, inicie o tratamento. Primeiro 10mg/dia; depois 20mg, 40mg, 50mg até chegar à cavalar dose de 60 mg/dia. Para você ter uma ideia, nosso corpo produz naturalmente 7 mg/dia. Eu tomava quase 900 % a mais! Somado a esse medicamento, havia mais 9 que deveria tomar diariamente.
Por estar exposto a dose tão alta, soube que poderia haver alguns efeitos colaterais, tais como: inchaço, euforia, cansaço, perda de massa óssea, etc. Mas o ponto era que "nada que não compensasse os possíveis malefícios do avanço da doença." À esta altura, eu ainda era um paciente ingênuo. A verdade é que, enquanto fazemos tratamentos de doenças não crônicas, os efeitos colaterais são, praticamente, ignorados. A história muda completamente quando se trata de uma doença crônica e você fica exposto a uma droga que mexe profundamente com o seu organismo! De paciente ingênuo e passivo, eu passei a paciente cético e ativo, como você verá no evoluir dessa narração.
Por estar exposto a dose tão alta, soube que poderia haver alguns efeitos colaterais, tais como: inchaço, euforia, cansaço, perda de massa óssea, etc. Mas o ponto era que "nada que não compensasse os possíveis malefícios do avanço da doença." À esta altura, eu ainda era um paciente ingênuo. A verdade é que, enquanto fazemos tratamentos de doenças não crônicas, os efeitos colaterais são, praticamente, ignorados. A história muda completamente quando se trata de uma doença crônica e você fica exposto a uma droga que mexe profundamente com o seu organismo! De paciente ingênuo e passivo, eu passei a paciente cético e ativo, como você verá no evoluir dessa narração.
Já estava na segunda ou terceira semana do tratamento com o bendito corticoide, quando chegou o resultado do laboratório de São Paulo: Glomérulo Nefrite Segmentar e Focal. Traduzindo: meus glomérulos - que são as principais unidades responsáveis pela atividade renal -, estavam definitivamente inoperantes em grande percentual. Enquanto um ser humano normal tem 100% de capacidade renal, eu tinha algo em torno de 15% e diminuindo progressivamente. Isso me assustou "um pouquinho"...
Até então eu estava animado, a minha animação permanecia em alta, lembra-se que eu ainda era um paciente ingênuo?, mas houve um momento ímpar numa consulta, o comunicado de uma verdadeira amputação: eu não mais poderia correr ou mesmo malhar. A razão era que as atividades físicas poderiam gerar muita toxina no meu sangue de forma que este fato poderia sobrecarregar meus rins desnecessariamente. Caminhar seria a minha única opção de exercício físico. Imagine o cenário: um atleta amador que corria 10Km com frequência, frequentava academia de segunda a sábado, estava terminantemente proibido de fazer o que eu mais gostava! Chorei, naquele dia. Foi a primeira vez. Fiquei revoltado! Fui tirado de meu lazer e não havia negociação. Para somar a tragédia daqueles dias, o câncer da minha mãe avançava em largos passos e ainda fui afastado, de um dia para o outro, de um projeto-social que liderava na Prefeitura do Rio onde era co-fundador, e que foi simplesmente a coisa mais amara em toda minha vida profissional. Amputações, amputações, amputações....
Não se pode falar de doença renal sem se falar em vida pessoal. As consequências invadem todas as frentes. A alimentação, o sono, a atividade física, os relacionamentos com amigos, o sexo, a auto-estima, tudo, tudo! Você poderá ver como eu fiquei e concluirá por si. Portanto, reitero a importância de você fazer avaliações com seu médico assistente. Não "durma no ponto"!
Preconceituoso, envergonho-me por ter sido, refutei o exercício da caminhada e segui com a ingestão de doses enormes das drogas médicas, sendo a pior a cortisona.
Ao final de uns 4 meses, comecei a coleção dos primeiros efeitos colaterais. Euforia.
Preconceituoso, envergonho-me por ter sido, refutei o exercício da caminhada e segui com a ingestão de doses enormes das drogas médicas, sendo a pior a cortisona.
Ao final de uns 4 meses, comecei a coleção dos primeiros efeitos colaterais. Euforia.
Estava desempregado, com o país indo cada vez mais para o buraco - estávamos em 2014 - e sentia-me feliz por qualquer coisa. Ria de tudo, falava como uma matraca, mal dormia - umas 3h ou 4h por dia. Lia livros, ouvia música. Procurava emprego mas, como disse, estávamos em crise e não conseguia me recolocar. Aquilo irresponsavelmente não me perturbava. Nunca fui um homem irresponsável, portanto é estranho hoje rever aqueles eventos e ver como uma droga pode mudar sua percepção da realidade! Tudo estava ótimo na minha cabeça. Dirigia da Zona Sul para o Recreio, umas 2h30min em cada ida ou volta, mas mesmo assim continuava alegre. Que coisa esquisita!
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