quinta-feira, 27 de abril de 2017

Oi, eu tenho câncer.

Meu telefone tocou. Eram 2pm de uma terça-feira. No visor do telefone, o nome de um velho amigo que não vejo há anos pelas razões da vida adulta contemporânea, mas ele é um querido amigo-irmão. Não importa o tempo ou a distância, somos muito próximos.

(Por questões de preservação da intimidade, irei trocar o seu nome por Mateus)


Mateus: - Oi Danilo, como vai essa luta?
Eu: - Oi, meu camarada! Quanto tempo! Estou na mesma, né? Seguindo em frente na medida do possível, ora mais veloz, ora mais lento, mas sempre seguindo em frente. E você, como anda?
Mateus: - Estou com câncer, cara. Ainda não sabem a origem, mas estou com câncer.

Pausa. O que dizer nesta hora? O que eu, mero mortal, um cara se enxerga plenamente imperfeito, teria para dizer a alguém em uma situação tão nevrálgica?

Respiro fundo, sigo:

Olha, é tanta coisa que passa na minha cabeça nessa hora que fica até difícil de organizar os pensamentos, mas eu vou me empenhar. Espero que você não se sinta desrespeitado com alguma coisa que eu diga.  Lembre-se sempre que estas são somente opiniões muito particulares. O que lhe servir, ótimo, faça uso; já o que não lhe servir não há problemas em rejeitar. Cada um tem o seu jeito, está bem?

Antes de qualquer coisa, quero dizer do fundo do meu coração que eu sinto muito muito muito que a porta do desafio da doença tenha se aberto para você. Sinto muito mesmo, cara. Sei que é tudo muito obscuro e novo para você, e que sua avaliação de si vai te mostrar ser um ser muito frágil. Estar vivo, meu querido, é um estado de muita fragilidade. A gente acha que é forte, mas, como você está vendo, não é. Perceber isso pode assustar no início, pode mesmo tornar-se uma situação terrível, um pesadelo acordado. Eu sei, de alguma forma, o que você sente, eu realmente te entendo, eu já passei por essa porta, você sabe...

Segundo, eu quero dizer o seguinte: Cara, que merda!!! Sim, você também pode xingar, ficar chateado, aborrecido com a vida, puto com o tudo e todos. Você pode! OK? Você pode! E essa história de ficar repetindo que "vai ficar tudo bem! vai tudo ficar bem!", eu não sei como funciona para você, mas para mim, falar essa frase sem o mínimo de evidências é uma coisa irritante. Não! As vezes as coisas não ficam bem! O que é viver senão aguardar o desconhecido? E a vida é assim. Portanto, se quiser ficar bem puto da vida e com a vida, fique! Você pode!

Quanto aos médicos. Bom, muitos deles não gostarão do que eu vou dizer, mas eu não quero ofendê-los. Mesmo porque muita coisa não é "culpa" deles. O ponto é que a medicina alopática atual sabe muito mas não sabe ainda o suficiente para nos curar. Tratam dos efeitos, mas não tratam as causas e assim, perpetuam a falta de saúde. É um modelo de trabalho, uma abordagem de manter o paciente vivo, quase, a qualquer custo. Mas quando eles chegam para atuar, o estrago já foi feito. A doença já está instalada...é uma medicina de guerra, saca? Neste ponto, sou mil vezes mais pró medicina oriental. Aquela galera dos olhos puxados detêm um conhecimento de preservar a saúde enquanto ela ainda existe, é mais manutenção do que correção... Mas, do lado de cá do Atlântico, o estado da arte desta ciência está ainda engatinhando nessa abordagem. Portanto, não espere resposta definitivas, espere possibilidades. E o tratamento do câncer, é um jogo de tentativa e erro, além de ser extremamente devastador para o corpo e para a mente do paciente. É algo que irá exaurir sua energia vital na expectativa de "matar" as células cancerígenas e torcer - eu disse torcer mesmo! - que suas células saudáveis se recomponham e as cancerígenas não. Cara, um dia ainda vão dizer que este método é uma loucura, mas é o que temos para hoje. Eu também passo por isso: sou ligado a uma máquina e fico conectado a ela por horas e, ao terminar, muitas vezes saio pior do que entrei. Fazer o que? É a ciência médica que temos. Não se pode esperar um tratamento com resposta com exatidão. Eu demorei para aceitar esta realidade.

Converse com Deus. Converse muito, meu amigo! Converse em pensamento e converse verbalmente mesmo. Converse em pensamento como quem fala com seu um pai humano. Converse sabendo ser Ele um Ser capaz de escutar o que se passa no seu coração e de lhe oferecer um aconchego que só Ele pode oferecer. Ele ouve, é incrível! E você verá que quando menos esperar surgirá um ombro, alguém para te amparar. Assim, Ele se faz presente fisicamente, através dessas pessoas que estão à sua volta quer sejam seus filhos, parentes, amigos ou mesmo um desconhecido na fila do banco que do nada pára e diz alguma coisa que te toca o coração. Eu recomendo um desafio: aceite o conforto deles e sinta a presença de Deus na sua vida. Ah, tem um livro bacana que pode te ajudar: A Cabana. É blockbuster mas é bom, pode acreditar.

Acho que você também vai chegar na fase de repensar a vida. Vai reviver sua infância, revisitar seus anos na adolescência, lembrar do início de sua fase adulta e nessa hora, é fácil notar um monte de besteiras que você fez e, aí, cair num profundo sentimento de culpa. Você pode chegar à conclusão que ficou doente porque é culpado pelos erros que cometeu! Cara, se isso acontecer pare imediatamente com essa vibe! É um modo de pensar que além de não te ajudar a melhorar não é verdade. Explico por 2 caminhos: 1) Se você pudesse, você puniria um filho seu com uma grave doença por ele ter feito uma besteira? Eu acho que não, não é?! Agora, você acha que Deus - que é Deus e perfeito - iria te punir com uma doença por você ter errado? Se nem você faria tamanha maldade, quiçá Deus! 2) Você sabe que há um bando de corrupto ladrão no nosso país; e esses caras estão lá numa boa, ricos e aparentemente saudáveis. Uns vivem 80 e tantos anos, e não pegam um resfriado. Assim, pense bem, você acha que quem fica doente é porque é culpado de alguma coisa? Não, cara, esquece! Você ficou doente porque seres vivos ficam doentes. Ficar procurando explicações mirabolantes para certos eventos da vida é querer descobrir o desconhecido. E o desconhecido é desconhecido! A gente simplesmente não sabe e, de novo, a vida é assim. Se você ficou doente, vamos enfrentar o que vem pela frente, não o que ficou para trás, OK?

Por essa e outras, também recomendo você procurar uma forma de tratamento energético. Está aí a física quântica e os orientais para dizer que tudo é energia. A matéria, o seu corpo, é tão manifestação de energia quanto os são as ondas FM de uma estação de rádio. Você duvida de que existe uma onda de rádio FM porque você não a vê? Pois é, assim somos nós: energia em um estado peculiar de manifestação: energia condensada, matéria. Somos energia que podemos ver e tocar (Há quem diga que não há toque, mas isso é papo para outro dia). Aprendi que quando nossa energia vital não circula de forma bacana, harmônica...aí surgem as doenças. É por isso que está todo mundo ficando doente! Quem é harmônico nesses dias em uma cidade grande? Me diga somente um nome, quem? Eu sei, eu sei, essa é uma abordagem diferente. É o que tenho aprendido com um tutor de medicina oriental e é por isso que sugiro a você cuidar de sua energia vital. Pode ser através de meditação, tai chi, taoísmo, yoga, acupuntura, não importa. Cuide de sua energia vital.

Toque-se, toque outras pessoas e seja tocado por elas. Durante essas interações observe que você está vivo e que o outro também está vivo. Esses toques podem se dar por um abraço, uma massagem,  um caminhar de braços dados. Pode parecer bobagem, mas parar para se perceber vivo é uma atividade fascinante. Pare e fique atento à vida que pulsa dentro de você. Ouça sua respiração, sinta seu coração, note que, apesar de todas as dificuldades, seu organismo está trabalhando, seu coração está batendo, seu estômago está digerindo o alimento, seu pulmão está fazendo a magia de levar o oxigênio da atmosfera para sua corrente sanguínea. Tudo de forma "automática"! Visite você mesmo! É estonteante observar essa maravilhosa máquina chamada corpo humano e pensar em como você chegou até aqui após tantas décadas, com um órgão que bate quase 1 vez por segundo, o seu coração, desde você ainda ter estado no ventre de sua mãe. Escute, meu amigo, essa orquestra chamada organismo que toca dentro de você numa sinfonia da vida conduzida com perfeição por um maestro invisível. Visite-se!

Toda doença é um portal. Existia um "você" antes e um "você" depois. Essa transição é um processo. Leva tempo. Portanto, resiliência é a palavra-chave. Podem levar meses, ou mesmo anos. Mas dessa desconstrução construtiva, surgirá uma nova alma, alguém mais humano, mais responsável, alguém que sabe distinguir o essencial do supérfluo. Não quero parecer que celebro sua doença, mas espero que você perceba que você está tendo uma oportunidade que muitas pessoas não têm: recomeçar. Lembro de minha mãe, já doente, falar que não sabia se ela teria a oportunidade de tentar de novo, mas que eu, por estar "novo", teria a oportunidade e que dependeria de mim fazer diferente a partir daquele momento. É isso, meu amigo, você também está tendo essa oportunidade. Aproveite-a e faça-a valer a pena!

Por fim, desejo que você viva intensamente o tempo que lhe resta, porque o que temos a não ser o que nos resta? Sempre foi assim e sempre será. Talvez essa sua ficha só tenha caído agora, mas é assim para todos nós: os vivos. É ilusão achar que quem está doente está mais próximo da morte do que quem não está. Ninguém sabe quando vai morrer e todos podemos morrer qualquer momento. Tem jogador de futebol que que do nada pá! cai no meio do campo e o cara estava em plena forma e saúde física. De novo, é o desconhecido! Portanto, liberte-se dos preconceitos e amarras e viva! Viva uma vida comum extraordinariamente! Viva!

No mais, meu querido amigo, meu querido irmão, no que eu puder ajudar conte comigo...enquanto eu estou por aqui :)

Um forte abraço e bons ventos.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

O que eu quero?

Sexta-feira Santa, 14 de abril de 2017.
Acordo às 5am. É dia de viagem. Sinto que esta foi a pior noite da minha vida. Estou moído.
A insistente febre segue. Firme e forte nos seus 39oC e poucos. Não dá nenhuma trégua desde a manhã de quinta. Tive delírios durante o sono! Tive? Não sei. Acho que sim. Olha, eu não sei se tive ou se não tive, só sei que não estou bem. Nada bem.
Como um carro tem de reabastecer num posto de gasolina, sigo em direção à clínica de hemodiálise para "reabastecer". Meu "reabastecimento" demora 4h e devo fazê-lo três vezes na semana e hoje é dia. E sim, como num posto, lá tem fila também.

Quem me atende é a enfermeira. Ela é ótima. Sempre educada e séria, quase formal. É assim que eu gosto.

Eu: - Bom dia.
Enfermeira: - Bom dia, Danilo. Você está bem? Parece abatido.
Eu:  - Olha, tive febre a noite inteira. Ainda acho que estou meio febril. Mas hoje vou viajar com a família. Preciso dialisar. Eu vou conseguir, não vou?

20 segundos de silêncio...

Enfermeira: - Danilo, paciente que está com febre pode ter....bem, melhor não falar porque pode te induzir. Mas vamos acompanhar, ok?
Eu: - Isso, melhor. Boa ideia.

A expectativa é grande de poder sair da cidade grande, fugir de sua dissonante sintonia de buzinas, ônibus e noticiário de corrupção, corrupção. Eu quero é comer o peixe gostoso que a querida Lena deve estar a preparar com todo carinho e amor. Quero encontrá-la e dar e receber um querido abraço e seu sempre cordial "Bem vindo à Serra.". Brincar com a Ághata, uma senhora labradora, e Jhonny, um cão mestiço, como eu (no que diz respeito ao mestiço, ok? :) )
Bem, preciso dialisar. Mas será que vou conseguir? Vamos ver...espero que sim.
Sento-me à minha poltrona.
A médica se aproxima e carinhosamente me avalia. Faço novos relatos de minha febre.
Minha temperatura é aferida pela primeira vez: 39,1oC. Ela parece ficar apreensiva mas igualmente esperançosa de que tudo vai ficar bem.
Agulhas no local, sangue correndo, hemodiálise iniciada.
O zum-zum-zum do salão junto às máquinas de diálise já vai diminuir, logo quase todos os pacientes estarão dormindo e a equipe da enfermagem já já terá descido para seu merecido desjejum. É a rotina. Todos já a conhecem.

35 min...

Hm, acho que está ficando frio. Melhor cobrir-me com o cobertor. Cubro-me. É um bom cobertor. Flanelado, sabe? Ah, e antialérgico. Parece que sou alérgico a quase tudo. Tudo menos cachorro. Amo-os. Mas quanto a medicamentos sou alérgico a quase todos. Azar dos laboratórios! Espero que o frio passe logo.

2 min...

Caramba! Esse ar condicionado hoje está forte! 

Eu: - Por favor, alguém poderia aumentar a temperatura desse ar?
Técnico de enfermagem: - Mas só tem um aparelho ligado do total de cinco. Você está com frio?
Eu: - Sim, hoje está muito frio aqui.
Técnico de enfermagem: - Peraí, vamos ver sua temperatura novamente.

5min...

Médica: - 39,5oC. Qual foi a última hora que você tomou o Paracetamol?
Eu: - Três da manhã.
Médica: - Neste caso, vamos fazer mais uma dose de 750mg e observar a evolução. OK?
Eu: - OK.

20 min...

Gente, mas que frio da porra! Estou me tremendo todo! Já estou com dores na lombar de tanto treme-treme. Estou de olhos vendados.

Enfermeira: - Danilo, está bem?
Eu: - Estou ótimo, Enfermeira (faço um sorriso forçado). É que hoje está muito frio por aqui.
Enfermeira: - Não force a barra. O salão está quente. Tem gente pedindo para ligar outros aparelhos de ar condicionado. Esses sintomas devem ser devidos à sua febre. Acho que você deveria falar com a médica. Vou chamá-la.
Eu: - Não, não! Não precisa. Vai passar, não tem muito tempo que me cobri. É frescura minha...vai passar. (outro sorriso forçado). Ademais, preciso dialisar. Depois daqui vou viajar para passar a Páscoa com a família e amigos na Serra. Preciso dialisar.

Consigo fazer com que ela ceda. Por enquanto.

18 min...

Caraca, que dor na lombar...mas eu vou me concentrar e não vou tremer. Meu pai não diz que frio é psicológico? Então! Hora de por em prática esse ensinamento.

4 min...

Nossa Senhora, eu acho que as coisas não estão indo tão bem. 

Eu: - Por gentileza, posso falar com a médica.
Técnico em enfermagem: - Claro.

1 min...

Eu: - Oi Dra., será que há alguma coisa para poder diminuir esse frio e eu conseguir dialisar numa boa?
Médica: - Danilo, você já está fragilizado. Já tem um tempo que você tomou o antitérmico. Vamos aferir novamente sua temperatura, está bem?
Eu: - Tudo bem.

5 min...

Médica: - 39,9oC. Sua temperatura não está cedendo. Acho melhor parar a sessão e você ir na emergência.
Eu: - Não! Não! Que emergência?! Eu vou perder muito tempo lá. Eu preciso dialisar, gente! Vou viajar!
Médica: - Mas não adianta você ficar aqui tendo calafrios. Você pode piorar e agravar a situação!
Eu: - Eu aguento, Dra.
Médica: - Danilo, vou te dar mais alguns minutos. Se você não melhorar vou unilateralmente suspender sua sessão.
Eu: - Combinado.

Concentro-me para não tremer. Olho a TV, está passando o Bom dia Rio. Tento não pensar. Tento...

20 min...

É, acho que não estou melhorando. Será que os vírus e as bactérias e os nano-seres filhos da puta que estão no meu sangue estão recirculando nesse filtro e isso está me piorando o estado geral? Como eu odeio ficar doente!!! Que merda!!!

Médica: - Danilo, você está tremendo muito. Estou suspendendo sua sessão.
Eu: - Tudo bem, eu entendo. :(
Médica: - Vá diretamente para a emergência. Lá avaliarão seus pulmões, seios da face e tudo que se precisa fazer.
Eu: - Tudo bem... :( obrigado gente.

Estou frustrado, mas entendo a razoabilidade da decisão.

(Tempo total de hemodiálise: 1h47min)

Sigo caminhando pelas calçadas do Bairro do Peixoto. Passos de cágado. Pernas doem. Cabeça dói. Lombar dói. Os olhos ardem. O coração aperta.
Entro na emergência.

13 horas....

- Oi Viviane. Como vai? (Ela é enfermeira).
- Oi Marcos, boa noite. (Ele é técnico em enfermagem).

Estou na UTI. Novamente. Já chego por aqui dando "oi" para as pessoas. Seria engraçado se não fosse trágico.
Páscoa internado. Não há mais viagem. Não há mais companhia dos amigos. Não há mais o peixe, nem o abraço da querida Lena, nem o carinho dos meus amigos caninos.

Dia 20 de Abril de 2017.
Estou de "alta",  saí segunda 17 de Abril do hospital.
Saí cedo de casa para o tratamento de acupuntura. Na sequência, um dos pacientes e também querido amigo, oferece-me para aplicar um novo tratamento que ele acaba de conhecer. Algo chamado medicina emocional de um "guru", um tal Renè Mey. Estou tentando de tudo.

Amigo: - Fique de pé. Olhe para mim. Vamos lá. Qual o seu nome?
Eu: - Danilo.
Amigo: - Quantos anos você tem?
Eu: - 35, quase 36.
Amigo: - O que você quer?

5 segundos de silêncio...

Eu: - O que eu quero? ... Saúde.

Desabo. Choro. Soluço. Quase sinto vergonha, mas não deveria senti-la, não é?
O que eu quero é Saúde.




quarta-feira, 12 de abril de 2017

É com o coração que se ouve

Eu, tu, ele, nós, vós, eles. Todos temos problemas na medida que eles existem de todos os gêneros e espécies. É problema para todos os "gostos e apetites"! Todos, sem exceção, temos problemas. (Essa é uma das poucas assertivas não relativas na história da humanidade).
Por conseguinte, cada um escolhe, voluntária ou involuntariamente, lidar, enfrentar, passar pelos seus problemas de formas diversas. Uns mais otimistas, outros mais pessimistas, cada um dá a sua "cara", o seu jeitão, no lidar com as diferentes adversidades que a vida inevitavelmente nos apresenta.
Em 2013, tive a separação de um relacionamento de 13 anos, perdi um emprego que amava, descobri uma insuficiência renal e cardíaca e, para completar o quadro, minha mãe descobriu um câncer que, por fim, a levou deste plano 2 anos depois. É amigo, não se pode dizer tive um ano fácil. De forma que foi inevitável a mudança do que eu chamava "plano de vida". Entendi que a vida me dizia: Ei, cara, pare e pense! Onde você está? Para aonde você estava indo? Para aonde você deveria ir?
Não, não se tratam de reclamações as minhas palavras aqui registradas. Como eu disse no início, todos, sem exceção têm problemas, incluindo este despretensioso escritor. O que transcrevo aqui é a minha humanidade, a minha fragilidade, a minha expectativa de, talvez, só talvez, entrar em contato com o seu sentimento, querido leitor, querida leitora. Dividir que estamos todos no mesmo barco. Estamos todos navegando, uns mais cientes de sua direção, outros completamente perdidos, mas todos a navegar em direção a algum lugar. Será que você sabe para aonde está indo?
O dicionário diz o seguinte: o ser é humano por distinguir-se dos outros animais por agir com racionalidade. Eu não poderia discordar tão frontalmente da incompletude uma afirmação como essa. Como assim somos racionais? Se assim o fôssemos, o mundo não estaria como está. Sim, somos eventualmente racionais, mas de forma sobremaneira somos seres emocionais. O que é o amor maternal? Darwinismo somente? O que é sentir a perda de um ente querido, uma perda irreparável que nem o tempo curará em sua plenitude? Frescura? Pergunte a uma mãe cujo filho a deixou por uma fatalidade e talvez, talvez!, você escutará o que é a verdadeira descrição de vazio, vácuo. Mas escute com o coração, porque seu ouvido não é capaz de entender essa dor, esse sentimento. Mas se você optar ouvi-la pela razão, com seus ouvidos, você muito provavelmente irá chamá-la de louca, e nesse caso, é melhor você próprio procurar um psiquiatra.
O que observei é que ser humano é ser sentimento. É sentir a si e sentir o outro. Complexo, não? É compreender, como disse, uma conversa com o coração e entrar em contato com uma forma de saber onde palavras não mais importam, e que é através do coração onde se dará a verdadeira audiência. Como um pai sabe que ama seu filho? Ou um filho sabe que ama uma mãe?  Como você sabe que ama um amigo? Por ouvi-lo com as orelhas? Por gestos? Não, tem certas certezas que se têm e não se explicam. Porque parece ser o coração o órgão onde a verdadeira inteligência nos torna o que somos: humanos.
Por fim, quero dizer que estou longe de ser Dalai Lama, Buda, ou um Iluminado. Não. Eu sou Danilo mesmo, pai de duas crianças, marido, filho, irmão, homem simples e que está aqui dividindo e pensando junto de você, querido leitor, querida leitora, sobre esses grandes eventos que a vida inopinadamente nos apresenta. Se ela ainda não os apresentou, ótimo mas sempre repense onde você está e para aonde está indo. Mas, por outro lado, se ela já o fez parar para pensar sobre sua trajetória...lembre-se: é no coração onde realmente vamos ouvi-la.