Tenho 35 anos. Pai, marido, filho, irmão, amigo, cidadão. Estes são alguns dos papeis que tenho ou adquiri durante esse lapso de tempo de 35 anos. Mas foi um médico que trouxe a mais bela notícia do dia: Danilo, resta-lhe 1 ano de vida a partir de Outubro de 2016.
Wow! É emocionalmente muito mobilizante tomar consciência de que se está ainda vivo! Sim! torna-se vivo aquele que enxerga cara-a-cara a Sra. Morte. Ela, silenciosa e definitiva não costuma ser incompetente quando chega, e quando chega...Fim.
Enquanto ela não chega, sua aproximação é anunciada por um estrondoso silêncio que relativiza tudo mais: paternidade, matrimônio, filiação, irmandade, amizade, cidadania....tudo se despede de sua roupagem usual e adquire inéditas outras mais completas significações! Em verdade, os detalhes tornam-se gigantescos eventos a exemplo de cada inspiração, cada espirrar, cada piscar dos olhos...tudo é como se não houvesse sido mas sempre houve e eu não os percebi tanto. O pulsar do coração em sua maestria percebo-o agora tão lindo, tão lindo que enfeita de magia este pleno exato momento de existir de meu ser.
Quase sinto-me culpado por não ter percebido tantos detalhes antes, mas agora já não há mais tempo para sentimentos ruins, há de se usar o tempo com inteligência, eficiência, eficácia, em uma palavra: Amor.
Hei de rapidamente repensar e direcionar respostas às perguntas mais triviais:
Quem sou eu? Para onde vou? Quem meu coração escolheu amar? Quem eu escolhi admirar? Quem eu decidi cultivar, como aquela flor de O Pequeno Príncipe? Quem eu decidi perdoar? Quem eu escolhi ignorar? O que eu fiz de bom? O que eu fiz de ruim? O que eu decidi estudar com profundidade do intelecto e do coração? Que eu decidi modificar no mundo? Quais virtudes potencializei? Quais defeitos extingui ou atenuei? Qual o legado de valor (intangível e imaterial) eu deixei pros meus filhos? Qual, enfim, é a desconhecida história que vou deixar, não para os outros, mas para eu poder rememorar neste derradeiro momento? Será que Deus está orgulhoso por tudo que fiz, digo, em média? "Passei de ano na vida?", por assim dizer?
Ah, meu relógio Tissot, meu cordão de ouro, meu Macbook Pro, todas as minhas roupas de grife no armário e o meu lindo carro! Ah, que escultura móvel mais linda! Se nunca dei muita bola pra eles, muito menos agora conseguem dar significação a este anúncio tão definitivo. Pior! Nenhum deles me fez perceber que o tempo e energia e dinheiro gastos com eles não acrescentaram um grão de areia à minha ampulheta do tempo de que dispus sobre a face da Terra. Nada, zero, nula é a contribuição de cada um desses "bens". Nenhuma felicidade de verdade me trouxeram.
Sabe, queria poder o verbo poder mais um pouco. Não porque morrer é ruim, mas porque poder viver tem um gosto diferente agora. Mas por que só agora sinto-o diferente? Isso é triste :(
Toda essa reflexão é uma simulação mental. Essa notícia do médico jamais ocorreu comigo. Fi-la hoje, em mente, e decidi por aqui para dividir com você. É uma provocação que fiz a mim mesmo e que agora convido-o a fazê-la por si: e se você tivesse somente mais 1 ano de vida, qual seria sua reação, qual seria sua ação?
Do meu lado, sigo confiante no cuidado de minha saúde. Não espero tanto que o mundo me compreenda; as pessoas sequer compreendem a si e vão esperar que eu as compreenda? Mudá-las? Eu?! Está difícil mudar-me, quiça mudar alguém! A ideia é muito mais: eu na minha, você na sua e nós na nossa em paz! Sempre em paz! Nada de novidade neste discurso mas que, de alguma forma, eu, teimoso, insistia em querer fazê-lo diferente gastando muito mais energia do que o necessário. É isso: trata-se de escolher no que hei de gastar minha preciosa energia. Sigo, assim, enfrentando as dificuldades da vida com novo ânimo, com novas perspectivas. Lembrando que eu posso morrer daqui há 1 ano mas que estou vivo e espero não morrer tão cedo!